sábado, 1 de fevereiro de 1992

Bonito!


Verde. Até onde o olhar chegava, era verde. Um mar de copas verdes estendia-se até‚ ao infinito. E aí unia-se ao azul do céu onde nuvens coloridas de pássaros davam outras cores ao azul celeste.
No interior daquele mar de folhas a vida efervescia num turbilhão de urros, guinchos, chilreios, rosnados e tantos outros nomes que se dão às vozes dos animais. E todos falavam ao mesmo tempo, parecia uma grande feira debaixo daquela massa vegetal.
Uma massa compacta, apenas interrompida por alguns cursos de água. E mesmo aí eram quase cobertos pela vegetação que crescia até aos limites das margens, debruando-se sobre elas como se quisessem passar para a outra banda.
As margens, escurecidas assim pela muralha de plantas, tinham um aspecto sinistro. Assustador mesmo! Dando a sensação que mil olhos hostis nos espiavam.
Então, inesperadamente... tudo fica escuro!
– Bonito! Agora ‚ que havia de faltar a luz! Assim não vou poder ver o resto do filme!

O Custo da vida


Esse monstro pavoroso, que nos faz desesperar, encolerizar, alucinar, e outras coisas acabadas em ar, não afecta a todos. Há uns quantos privilegiados, que por estarem demasiado alto, o monstro não lhes chega. Mas as pobres almas, cá em baixo, têm sempre esse bicho à perna. Muitos, para lhes escapar, tentam subir, mas debalde. Porém, alguns espertalhões, vendo que o balde‚ muito pequeno para chegar lá a cima, usam de artes e manhas, que incluem fazer das pessoas escada, para chegarem ao topo. E alguns conseguem! No entanto uma vez lá em cima, tornam-se num dos grandes, e não ligam puto àqueles que já foram seus iguais, e que não deixam de o ser.
Infelizmente, liga-se muito às alturas. Em baixo a plebe, como erva rasteira onde toda gente grande pisa. E em cima, os privilegiados, como frutos proibidos em suas árvores.
Por vezes acontece este bicharoco subir às árvores causando aí estragos, de tal modo que alguns frutos apodrecem. E quando isso acontece caiem. E onde? Em cima da erva‚ claro. Espalhando aí os seus detritos podres, causando mais problemas, como se os não houvessem já suficientes.
Mas como tristezas não pagam dívidas, e dívidas é coisa que não falta, o “Zé Povinho” vai empobrecendo alegremente. Mas não há-de ser nada.